SOMOS TODOS TOTENS: Poemas, quadrinhos e outros espasmos

Certa vez me perguntaram o que eu queria alcançar com minha arte. Tive imensa dificuldade em elaborar a questão ali, na hora, à queima roupa. Respondi que eu não sabia o que estava fazendo, eu simplesmente estava fazendo. E continuo com a mesma resposta na ponta da língua: eu estou fazendo. A arte é uma maneira de dizer o indizível. É uma ferramenta que revela o que não é visível a olho nu, mas ainda assim está ali, óbvio e gritante, esperando que algum artista rearranje a realidade em símbolos e significados. O livro a seguir é uma coletânea que resume meus muitos eus. Ela guarda um pouco de doçura e lirismo do meu eu menino. Tem ainda a acidez pueril do adolescente que fui. O cinismo existencial e fatalista da minha face adulta também se faz presente. A plenitude do meu eu dono de casa aparece em
alguns momentos, nos quais me mostro senhor de meu pequeno castelo de amor. ‘Somos Todos Totens’ é uma expressão que surgiu na minha mente há alguns anos. De lá para cá venho enchendo meus cadernos de desenho com a tal frase, sem saber ao certo o porquê. Totens são monumentos que celebram o passado simbólico de um povo, a ancestralidade que moldou sua cultura. A coletânea que segue é o meu totem, uma mistura de temporalidades, vivências e espasmos. Uma amálgama estranha e diversa que me faz ser quem eu sou